Com a criação de sistemas escolares de acesso universal, obrigatório e gratuito, por períodos de tempo cada vez mais longos, a escola passou a viver a crescente heterogeneidade de públicos como uma patologia para a qual seria possível encontrar remédios sem colocar em causa a clássica "gramática organizacional" que marca a escola da modernidade. As exigências de assegurar um ensino "simultâneo", baseado na compar¬timentação disciplinar, dirigido a turmas em que o referencial é o aluno "médio", traduzem-se por uma uniformidade interna e por modalidades de divisão e de exercício do trabalho, por parte dos professores, que desarmam a instituição escolar perante a diversidade de públicos, situando-se muitos deles longe da cultura escolar. Estas dificuldades em estabelecer uma "comunicação" fecunda e funcional entre a escola, os seus alunos e as suas comunidades de pertença (familiar ou étnica) foram substancialmente agravadas com a transformação de uma escola de elites numa escola para todos, resultante de medidas de política educativa, de fluxos migratórios, de processos de concentração de problemas sociais em territórios específicos. Este conjunto de factores, externos e internos à escola, contribui para alimentar e agravar processos de dualização social e de segregação escolar que estão no cerne daquilo que, em termos comuns, se tem vindo a designar por "exclusão". É neste contexto que emerge a figura do mediador sócio-cultural.
Vitor Manuel de Almeida