A complexidade dos processos de saúde-doença e os avanços prodigiosos no campo da saúde, nomeadamente: no âmbito do combate às infeções; da cirurgia, da qual se salienta a laparoscópica; dos transplantes e das técnicas de diagnóstico que permitem a visualização direta do órgão in vivo (Tadeu, 2009), tem trazido um debate frutífero sobre o nível de evidência das intervenções prescritas e implementadas nas pessoas clientes dos cuidados de saúde. Atualmente não é possível pensar em segurança nos cuidados de saúde sem pensar em evidência.
Concordamos que muitas das intervenções são suportadas por evidência científica e estudos randomizados. Contudo ao nível das intervenções de manutenção da vida essa evidência nem sempre é alicerçada em investigação, antes na tradição mantendo atividades que sempre foram executadas.
A terapêutica de posição é um claro exemplo de uma área descurada pela investigação e até pela formação dos profissionais, apesar de referida como intervenção ou como um cuidado coadjuvante para outras terapias prescritas na saúde.
Desde a antiguidade que nos Tratados de Medicina o posicionamento aparece como coadjuvante de outras terapias, nomeadamente para a cirurgia e administração de purgas. Nos cuidados de enfermagem surgem diferentes referências às diversas posições que a pessoa doente deveria assumir. Exemplos disso surgem na primeira obra portuguesa escrita por um frade da Ordem de São João de Deus, a qual é direcionada para a formação dos enfermeiros: a “Postilla Religiosa”. Neste escrito são claras as indicações para colocar a pessoa doente em determinada posição na sequência de outros tratamentos. Também em meados do século xix Florence Nightingale prescreveu pela primeira vez a mudança de decúbitos de 2 em 2 horas, a qual ainda hoje é aceite como uma recomendação de ouro para a prevenção das úlceras por pressão.
Todavia, atualmente ainda não há evidência da influência dos diferentes posicionamentos nos cuidados de manutenção da vida e nos de reparação, talvez derivado ao processo de cuidados de saúde continuar muito centrado na prescrição medicamentosa e no efeito dos fármacos no tratamento das doenças, desvalorizando assim outro tipo de cuidados.
Maria José Loureiro, Óscar Ferreira e Cristina Lavareda Baixinho