À guerra, Coimbra de Matos contrapõe o amor, não só como paixão ou encontro entre dois seres, mas como uma pulsão genésica e multifacetada, que impregna todas as obras humanas, capaz de estruturar personalidades, relacionar pessoas e fundar civilizações, um pouco como o Eros de Freud na agora portuguesmente falado e usado por toda a gente: uma palavra com quatro letras chamada Amor. O amor é a reconstrução dos oceanos primitivos, pessoa a pessoa, no nascimento de cada novo ser, no pulsar de cada ideia nova e no evoluir de cada civilização. Neste sentido forte, de genuíno interesse pelos outros, é um verdadeiro organizador social, revestindo diversas formas, desde o controlo de qualidade à bondade cientificamente informada, aos produtos amigos do ambiente e do consumidor. Opõe-se à inveja, ao ciúme patológico, determina o tabu da guerra, do filicídio, do aborrecimento e da repetição de teorias ocas e vazias, só consideradas verdades porque milhares de vezes repetidas. Para Coimbra de Matos, o amor é praticado pelo aldeão de Galafura com a charrua que lavra a terra, pelo vinhateiro que colhe as uvas do seu vinho do Porto, pelo cientista que luta pela verdade e pelos amantes que recriam, dentro dos seus corpos, os fluidos primitivos donde brotou a vida.
António Coimbra de Matos (20 de dezembro de 1929 – 1 de julho de 2021)
Foi psiquiatra, pedopsiquiatra e psicanalista e uma figura incontornável na história da saúde mental em Portugal, com incidência no estudo da depressão.
Foi diretor do Centro de Saúde Mental Infantil e Juvenil de Lisboa, onde trabalhou com João dos Santos, o pai da pedopsiquiatria portuguesa, fundador e presidente de várias sociedades científicas e professor no ISPA e na Faculdade de Psicologia de Lisboa.
Em 2012, nos EUA, foi premiado como Distinto Professor de Psicanálise. É autor de variados artigos e livros.