"Mudo e quedo como um penedo - diz o povo, mas sem razão. A verdade é que as pedras falam e mexem connosco (e não só as mancas…), como nos ensinaram geólogos e paleontólogos. A estes dois grupos gostaria de juntar o dos fotógrafos. Que eu saiba, nunca nenhum curador se tinha lembrado de olhar para a pedra e rocha em fotografia. Um olhar de águia, transversal no tempo e no espaço. Quis investigar a maneira como os homens e mulheres têm captado as pedras nas suas câmaras, desde os tempos heróricos da fundação da fotografia. Por coincidência, a fotografia foi inventada na precisa altura em que os povos começaram a desbravar e a colonizar o espaço vazio - da América à Austrália - quantas vezes empurrando, modificando, ou dizimando os ocupantes originais. A fotografia foi testemunha dessa colonização.
Pelo caminho, as pedras mágicas e as formações rochosas mais imponentes iam sendo fotografadas, às vezes apenas - como aconteceu com a conquista do Monte Everest em 1953 - porque “estavam lá”. Tinham ainda a vantagem de ser imóveis, e não darem imagens tremidas nessa época longínqua de longos tempos de exposição."
Jorge Calado
Jorge Calado tem desenvolvido carreiras paralelas nas ciências e nas artes. Licenciou-se em engenharia química pelo Instituto Superior Técnico (IST), e doutorou-se em química pela Universidade de Oxford. Professor catedrático (emérito) de química-física no Instituto Superior Técnico, foi também professor catedrático-adjunto de engenharia química na Universidade de Cornell, NY. Publicou mais de 170 artigos em revistas internacionais sobre termodinâmica de líquidos moleculares e energética das apatites e gerou mais de 130 doutoramentos directos e indirectos. Foi o primeiro químico a receber o Prémio Ferreira da Silva, o mais alto galardão da Sociedade Portuguesa de Química. Membro de várias comissões científicas internacionais (no âmbito da IUPAC, Conselho da Europa, OTAN, INTAS e UE), foi também membro da Junta de Diretores e diretor executivo da Comissão Cultural Luso-Americana. É sócio efetivo da Academia de Ciências de Lisboa desde 1988. Muito interessado nas relações entre as ciências e as artes, regeu cursos como “A Arte da Ciência” e “Arte, Ciência, Técnica e Sociedade” em Cornell e no IST. Autor do capítulo sobre Ciência na história da "Fundação Calouste Gulbenkian: Cinquenta Anos 1956-2006". É crítico cultural do semanário "Expresso" desde 1986, e contribuiu para o "Times Literary Supplement" (história e filosofia da ciência), "Opera News", "Opera Now" e "Agenda XXI". Concebeu e dirigiu os primeiros cursos de pós-graduação em Administração das Artes em Portugal (no Instituto Nacional de Administração), e fundou a IST Press. Em 1987, a pedido da Secretaria de Estado da Cultura, criou a Coleção Nacional de Fotografia. Comissariou mais de 25 exposições de fotografia em Portugal, França, Bélgica, Reino Unido e EUA. O seu livro mais recente é "Limites da Ciência", publicado pela FMS em 2014.