O consumo de álcool é uma prática cultural e socialmente aceite. Contudo, o seu consumo, moderado, exige que o organismo esteja suficientemente preparado para realizar a sua metabolizacão. Esta preparação supõe maturação suficiente de diversos componentes orgânicos, e em especial do sistema hepático, e uma boa condição física geral. Quando tal não acontece, o consumo inadequado de álcool produz um efeito pernicioso, quer imediato, com a ocorrência de episódios de embriaguez ou a realização de comportamentos de risco, quer a longo prazo, na deterioração da saúde e na vida de relação. No que diz respeito às consequências imediatas, os estudos têm mostrado que o consumo inadequado de álcool está relacionado com a sinistralidade – doméstica, no trabalho e/ou rodoviária - com o aumento de conflitualidade nas relações interpessoais ou na adopção de comportamentos de risco para a saúde.
Os problemas associados ao consumo inadequado de álcool requer que uma atenção especial deva ser dada à aprendizagem de como e quando o devemos consumir. Na ausência de uma aprendizagem bem sucedida os riscos são enormes, estimando-se que cerca de 4% do burden global das doenças seja atribuído a problemas relacionados com o álcool.
Como influenciar, então, positivamente uma trajectória de consumo adequado de álcool?
O conhecimento acerca do metabolismo do álcool no nosso organismo e dos seus efeitos físicos, psicológicos e comportamentais é um importante ponto de partida mas que se tem mostrado –insuficiente. O comportamento humano reflecte a forma particular como cada um vai interagindo com o seu meio e conferindo sentido ao conjunto de crenças e valores socialmente partilhadas. As expectativas acerca dos efeitos do consumo de álcool, a percepção pessoal de qual o comportamento social desejado e esperado, as competências adquiridas para lidar com o stress e a adversidade, enfim, um conjunto de aprendizagens ao longo da vida que, de igual forma, se mostram importantes para a tomada de decisão.
O consumo de álcool em fases muito precoces da vida constitui um importante problema de saúde pública. Vários estudos têm mostrado como actualmente, em Portugal, se tem verificado uma mudança nos padrões de consumo, com uma experimentação por volta dos 13 anos e a instituição de práticas de consumo intensivo num curto espaço de tempo.
A Doutora Teresa Barroso como profissional com uma longa e qualificada experiência clínica no âmbito da alcoologia e detentora de uma entusiástica curiosidade científica e exigência metodológica tem vindo a desenvolver consistentemente investigação pertinente no domínio do consumo de álcool em populações adolescentes. Todo este determinado percurso redunda no presente trabalho, onde nos expõe de uma forma clara e bem fundamentada as variáveis que podem influenciar uma trajectória de consumo nefasto de álcool e como a podemos contrariar e onde nos descreve a adaptação de vários instrumentos em amostras significativas como preliminares para o hercúleo e original trabalho de construção e avaliação de um programa de promoção da saúde na população escolar baseado na evidência científica e no levantamento das necessidades locais, e que foi sabiamente integrado no curriculum escolar local. Num país com pouca tradição de avaliação de programas este trabalho pioneiro representa um marco indispensável para profissionais, gestores de planeamento e público em geral.
Tal como a Doutora Teresa Barroso nos expõe, as intervenções em meio escolar são particular-mente favorecedoras de boas aprendizagens em saúde e podem constituir-se em oportunidades excelentes de trabalho colaborativo entre os profissionais de saúde e da educação.
Profissionais da saúde e da educação têm vindo a juntar esforços no sentido de promover comportamentos saudáveis e prevenir experimentações e consumos precoces. No entanto, faltam programas de intervenção bem estruturados que, baseados na teoria e na investigação empírica orientem os interessados nesta importante prática. É o que se propõe ao trazer a público esta obra, que em muito ajudará todos aqueles que se interessam por esta problemática.
Teresa Maria Mendes Diniz de Andrade Barroso