Existe uma estreita relação entre os seres vivos e o seu ambiente, entre a pessoa e o ambiente que a rodeia. A biologia e a ecologia estudam a subtil e delicada interação que mantém a homeostasia e a harmonia deste binômio e os fatores que podem interferir no seu equilíbrio. O ambiente hospitalar, como todo o ambiente, exerce influências, positivas ou negativas sobre o paciente e sobre o pessoal de saúde que ali desenvolve a sua atividade profissional. Cedo os enfermeiros perceberam a importância que um ambiente de cuidados adequado e seguro representa ganhos em saúde e diminuição do tempo de internamento, além do bem-estar do paciente e da satisfação profissional, sendo um dos principais indicadores de qualidade.
Por isso o conceito de Ambiente foi incorporado no metaparadigma da Enfermagem. Pretendeu-se dar visibilidade ao Conceito Ambiente em Enfermagem. Propôs-se conhecer a estrutura significativa do Conceito Ambiente em Enfermagem e compreender o fenómeno do Ambiente Hospitalar nos cuidados de Enfermagem, para melhorar a intervenção do enfermeiro a nível da complexa interdependência Pessoa/Ambiente.
Realizaram-se pesquisas relativas ao conceito de Ambiente e à sua aplicação e descrição na Enfermagem e dois estudos de campo. O primeiro junto de enfermeiras gestoras numa experiência de criação / requalificação do ambiente hospitalar realizado em Portugal e o segundo com a participação de pacientes hospitalizados em serviços de Medicina e de Cirurgia do Hospital Universitário de Genebra, na Suíça, por ter iniciativas relativas à arte para melhorar o quotidiano do paciente e do pessoal. Para ambos optou-se por uma metodologia qualitativa recorrendo ao método fenomenológico de Amedeo Giorgi. A palavra Ambiente é polissémica e sofreu uma evolução etimológica e histórica.
Em Enfermagem, o conceito também foi se modificando ao longo da sua história, acompanhando os seus principais marcos. As Teóricas de Enfermagem incorporaram-no nas suas Filosofias, Modelos Conceituais e Teorias, influenciadas pela sua perceção do mesmo, pela época em que viveram, e as escolas de pensamento que integravam. Apenas Nightingale e Watson o definem em todas as suas dimensões, sendo que algumas teóricas somente lhe fazem referência implicitamente.
A experiência vivenciada pelas enfermeiras gestoras revelou uma Estrutura Geral de Significados onde se destacaram dezanove Constituintes Essenciais: dez relativos ao Ambiente físico, seis ao Ambiente Conceptual (abstrato) e três à Circunstância. O segundo estudo realizado junto dos pacientes permitiu ter acesso a uma Estrutura Geral de Significados da qual se extraíram catorze Constituintes Essenciais, entre eles quatro associados ao Ambiente Relacional, três ao Ambiente Físico e sete à Circunstância.
O conceito de ambiente sempre esteve presente nas preocupações da Enfermagem. As Enfermeiras gestoras que participaram no estudo demonstraram preocupação em criar um ambiente favorável à prática, especialmente na sua dimensão física e observando os requisitos legais. Os pacientes valorizaram o ambiente relacional, o pessoal de saúde e a enfermeira em particular, que representam o seu ambiente imediato. A sua experiência hospitalar, o tempo vivido no hospital permanecem nas suas memórias.
Estes dados apresentam relevância para a prática avançada de Enfermagem, proporcionando contributos para melhorar a intervenção do enfermeiro junto do paciente, ajudando-o a criar o seu ambiente no contexto hospitalar.
Françoise Lopes