É raro encontrar um homem livre em Portugal. Transportamos na consciência o medo do que vão pensar os amigos, os cunhados, a vizinha do quinto direito sobre o que pensamos e dizemos. Encontrei um homem livre(tanto quanto se pode sê-lo) numa entrevista publicada há dias no Público com Coimbra de Matos. O psicanalista mudou de opinião e assume-o (quem faz isso neste canto em que a coerência tem um valor absurdo?). Na psicanálise estou mais interessado no futuro do que no passado." Alguém que passou a vida à conta do passado ("o que aconteceu com a mãezinha, com o paizinho") está sintonizado com o que as pessoas projectam para o presente e o futuro. Contraria uma Europa psicanalítica que achará que o homem deve ser internado numa ala psiquiátrica em Baku.A sua teoria actual é a de que o paciente, ao longo da vida,vai aprendendo novos modos de entender o mundo e vai mudando. Uma perspectiva mais pragmática. Chega a dizer que é importante pôr em prática a ideia americana dos três "g" no que toca ao amor: "Good, giving and game." O que quer dizer, no seu entendimento, "bom,generoso e divertido". E acrescenta: «O bife que me interessa é o que vou comer logo à noite, não é o que comi ontem. " Portugal devia deitar-se no divã de Coimbra de Matos." Nuno Costa Santos in Revista de Sábado, n.º 617 de Março/Abril 2016
António Coimbra de Matos (20 de dezembro de 1929 – 1 de julho de 2021)
Foi psiquiatra, pedopsiquiatra e psicanalista e uma figura incontornável na história da saúde mental em Portugal, com incidência no estudo da depressão.
Foi diretor do Centro de Saúde Mental Infantil e Juvenil de Lisboa, onde trabalhou com João dos Santos, o pai da pedopsiquiatria portuguesa, fundador e presidente de várias sociedades científicas e professor no ISPA e na Faculdade de Psicologia de Lisboa.
Em 2012, nos EUA, foi premiado como Distinto Professor de Psicanálise. É autor de variados artigos e livros.