"A cidade atravessa o rio. Pelas ruas flui um mar de gente. As pessoas espelham-se nas montras do consumo. Do alto dos seus tronos galantes, manequins olham-nos com desprezo. As cabinas telefónicas são quartos de aluguer à hora. Sexo em toda a esquina mas também a curiosidade de folhear um jornal. As janelas fecham-se com grades e as portas a cadeado. Cobertores acumulam-se em diedros sem saída. Brancos e negros vão à vida mas, algures no parque, um jovem ainda tem tempo de ver os pássaros a voar.
Valter Vinagre saiu do seu laboratório etnológico (os usos e costumes do povo) e foi à descoberta da cidade. Este não é um retrato de Londres, nem de Lisboa, Paris, Viena ou Budapeste. É apenas um retrato do que fizemos às cidades – a todas as metrópoles – no começo do século XXI."
Jorge Calado
Este é o terceiro catálogo da trilogia "Camera Obscura": #1 "Fotografias Recicladas", #2 "Kaluptein" e #3 "Na Cidade".
Nascido em Avelãs de Caminho, no concelho de Anadia ,Valter Vinagre estudou fotografia no AR.CO ,(Centro de Arte e Comunicação Visual), em Lisboa.
Iniciou o seu percurso em finais dos anos 1980, realizando exposições individuais e participando em mostras e iniciativas de cariz colectivo. De início conotado com uma fotografia próxima do registo documental, o seu trabalho passou a interiorizar um exercicio mais reflexivo sobre a imagem, criando discursos sobre os significados associados à paisagem, à viagem e ao lugar da cidade. Do seu percurso salientam-se exposições como “Bored in the USA” apresentada no Centro Cultural Emmerico Nunes em Sines, “Carta do Sentir” exibida no Museu da Imagem em Braga, ou “Sob a Pele, 1996|2007” Voyeur Project View em Lisboa, e participações em mostras colectivas como “Topografias da Vinha e do Vinho” (2003), na Cordoaria Nacional, em Lisboa, “Uma Extensão do Olhar” , CAV-Centro de Artes Visuais, Coimbra , “My own private pictures|Imagens Privadas” na Plataforma Revólver, Lisboa.