A fiabilidade e amabilidade da relação – laço de seda – determinam o gume e brilho do espírito – mente de diamante. O laço de seda é macio e confortável, envolve sem prender, afaga e não roça; acolhe necessidade e por isso recolhe gratidão. É de índole social, objectal e oblativa; e não de catadura autista, narcísea e captativa. Então, o seu produto/protagonista emergente – a mente, a entidade que brota da relação – tem a dureza e o fulgor do diamante. É ouro sobre azul, sol brilhante em céu azul, mais além porque vou em e com alguém. Amor é fonte inesgotável do desejo e a imaginação impulso inextinguível ao voo nupcial; amada e amante, o par eleito para a festa da criação. Com o gás da emoção e nas asas do pensamento, o mundo é meu e o tempo infindável. Porém, só o amor incondicional por aquilo ou por quem se cuida – a obra, a criatura – alimenta sem interrupções a aposta, a fé e a crença. Diz-se ter causas; e, desde logo, o olhar longo do sonho acordado – construtor por excelência do Universo da Cultura – a desenhar o devir no horizonte do possibilitatório, possibilitação essa ditada pela vontade indómita de progresso social. A mais específica motivação humana é, pois e sem dúvida, a paixão pela criação: Homo sapiens sapiens é da cultura e para a cultura, transcende a natura.
António Coimbra de Matos (20 de dezembro de 1929 – 1 de julho de 2021)
Foi psiquiatra, pedopsiquiatra e psicanalista e uma figura incontornável na história da saúde mental em Portugal, com incidência no estudo da depressão.
Foi diretor do Centro de Saúde Mental Infantil e Juvenil de Lisboa, onde trabalhou com João dos Santos, o pai da pedopsiquiatria portuguesa, fundador e presidente de várias sociedades científicas e professor no ISPA e na Faculdade de Psicologia de Lisboa.
Em 2012, nos EUA, foi premiado como Distinto Professor de Psicanálise. É autor de variados artigos e livros.