Para a definição de políticas da habitação, como para o projecto das habitações é imprescindível o conhecimento das necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais dos Indivíduos e do grupo familiar. Constata-se que, no actual período de acentuada mutação cultural, este conhecimento pressupõe novos processos de análise baseados na observação e experimentação. A principal dificuldade do problema reside na necessidade de previsão, exercida a partir dos dados actualmente observáveis já que é a evolução económica e cultural, derivada da crescente mobilidade social, o factor determinante na progressão dos «standards», ou níveis (mínimos) de habitabilidade admissíveis para um dado estádio de evolução. Para definir estes mínimos procuraramse aqui localizar os pontos de mais provável incidência do processo evolutivo nas características e exigências de qualidade da casa. Estão neste caso: o incremento do trabalho feminino e do equipamento auxiliar para a preparação de refeições, tratamento de roupas e limpeza tendente a reduzir o esforço de manutenção da casa, maior frequência e duração de tempos livres em casa, a par de maior consumo de tempos livres exteriores, com novas ocupações tais como leitura ou estudo, televisão e rádio, além das tradicionais costura e conversa; maior desejo de independência de grupos, sobretudo de idades, no interior da casa; maior exigência de privacidade em ordem ao exterior e à vizinhança como condição de equilíbrio para relações de vizinhança e amizades mais selectivas.
Estas hipóteses de evolução, verificáveis ou esperadas, reflectir-se-ão nos níveis mínimos de área e outras disposições de projecto, aconselhando um estudo prudente e minucioso a partir da análise das funções e actividades que se exercem na habitação.
Detectam-se, nomeadamente, pressões no sentido de acréscimos de espaço, na zona de cozinha, para roupas e refeições informais; na zona de estar, tendente a permitir subdivisão; na zona de quartos, tendente a permitir postos de trabalho; na entrada e distribuição interior, por forma a assegurar o não devassamento e maior isolamento acústico.
A análise monográfica é desdobrada em 16 funções ou actividades, codificadas em números – (1) a (16) – e comunicadas em fichas que, após a designação e descrição das acções, examinam as características funcionais requeridas, o equipamento que envolvem e respectivas exigências antropométricas por forma a poder refundamentar quadros de áreas mínimas parcelares. Estes dados de programa não são independentes das soluções de arrumação relativa ou organização do espaço que se encarem, ou seja, das inter-relações e articulações, e estas variam por seu turno com as culturas e formas de habitar não redutíveis a modelos únicos. Daí que nestas fichas se procure discutir diferentes hipóteses ou tendências que se detectam na realidade e que os respectivos quadros de mínimos – estritos e desejáveis – sejam apresentados, em numerosos casos, sob forma de opções.
Como síntese da análise a que se procedeu foi possível organizar um quadro de áreas mínimas – imprescindível instrumento de política da habitação – que propõe apenas dois estádios ou categorias de habitabilidade para o meio urbano (cada um destes decomposto por tipos, definidos pela relação número de quartos/número total de ocupantes). A decomposição por áreas parcelares feita nesse quadro permite imediata comparação entre as categorias pelas funções ou actividades que uma e outra dotação de espaço possibilitam e, inversamente, mostra o que de vital se lesa quando se pretenda ficar aquém da categoria mínima proposta, nomeadamente se o projecto em causa não permitir uma extensão ulterior.
Este quadro, finalizando a primeira parte do estudo, é acompanhado de gráfico comparativo dos níveis de área em diferentes disposições regulamentares em empreendimentos nacionais e estrangeiros.