A história da Neurociência e dos seus intervenientes reflecte afinal as grandes ambições, os sucessos e insucessos da sociedade humana, desde tempos remotos à actualidade. Entre guerras violentas, conflitos pessoais, invejas traiçoeiras, projectos fracassados e delírios megalómanos, as histórias dos obreiros da Neurociência traduzem afinal um caminho longo, sinuoso e pleno de emoção, que o Homem vem percorrendo até aos dias de hoje. Quem admitiria há uns séculos que simples proteínas poderiam infectar o cérebro e matar, ou que novos males haveriam de cruzar a barreira das espécies e afligir o Homem? Viajaremos desde a origem egípcia da palavra cérebro aos artistas da neuroanatomia renascentista, dos estudos dos cérebros de Lenine e Einstein ou do assassino do Aqueduto das Águas Livres aos cientistas que sofreram ou se aproveitaram dos horrores do nazismo, dos investigadores de estranhas doenças, como a portuguesa doença dos pezinhos ou as causadas por priões, aos meninos selvagens e a doentes que ficaram na história por nos trazerem novos conhecimentos. Entre ilusões e desilusões, triunfos e fracassos, o Neurocientista tem procurado decifrar os enigmas da mente e conhecer as influências mais ocultas da estrutura nervosa no comportamento humano. Ao mesmo tempo que consegue elevar-se bem alto nos padrões da Humanidade, revela por vezes as maiores fraquezas que afligem a natureza humana. Estas breves histórias dão a conhecer um pouco da faceta humana desse curioso e incansável obreiro da Ciência. Com elas não pretendo descobrir os mistérios da Neurociência, mas apenas partilhar com o leitor a verdade daqueles que a têm conseguido interrogar.
Luís Bigotte de Almeida