Que constitui o essencial da prática do cuidar? Pode o conteúdo desta prática ser definido pela palavra ou mesmo passado ao prisma do escrito uma vez que é tão complexo, invisível, porque subtil? Os autores deste livro partilham as suas reflexões sobre a confrontação do agir e do fazer, estudam a relação entre a escrita e a acção, entre o acto de escrever e o agir do cuidado. Todos eles prestadores de cuidados, alguns exercendo como formadores, professores, outros enveredaram pelo caminho da filosofia. A sua experiência da prática, da formação, o seu gosto pela reflexão filosófica permitem-lhes ligar constantemente clínica e teoria, prática e sentido do cuidado. Assim, a abordagem filosófica é útil para delimitar este sentido, mas também para se dar conta que qualquer saber, qualquer que seja, toda a prática, qualquer que seja, não tem a capacidade de demonstrar sozinha apenas os seus próprios princípios. Além disso, estando mais perto do terreno, os profissionais experimentam a dificuldade para dizer a complexidade e a subtileza da sua prática aquando das passagens de turno e para escrever as suas actividades no dossier de enfermagem, e pode então interrogar-se se a escrita clínica da enfermagem é solúvel nas transmissões objectivas. Do mesmo modo, será que é redutível num destaque de actos ou de tarefas que parecem reflectir tão imperfeitamente até lhe desnaturarem a implicação pessoal que a acção de cuidar requer? A relação de cuidado está imbuída de sensibilidade e singularidade, tanto pela pessoa cuidada como pelo prestador de cuidados; ela também levanta dúvidas e questões. O exercício de pôr por escrito esta relação tão particular permite, ao mesmo tempo, esclarecer e revelar, pela própria dificuldade do exercício, a amplitude do que constitui uma verdadeira arte. A acção prestadora de cuidados não pode pois reduzir-se a uma sucessão de actos de cuidados.
Walter Hesbeen (dir.)