Desde tempos imemoriais que a espécie humana viveu e sobreviveu com pandemias provocadas por vírus. Nunca pressentiu tanto as vicissitudes da mediatização do medo, da ignorância e da incerteza como os que foram provocadas pelo Covid-19.
O paradoxo desta realidade é tanto mais significativo, na medida em que a ciência pautada pelos dilemas do progresso e da razão sentiu-se impotente para descobrir as causas e os efeitos da infetologia e da virologia que provocaram a doença e a morte em milhões de seres humanos.
Por outro lado, cientistas e políticos pouco se preocuparam em investigar a incapacidade imunológica da espécie humana para combater os efeitos perversos do vírus, escamoteando todas as contradições e conflitos prevalecentes na sociedade em termos sociais, económicos, políticos e culturais, assim como das relações de genocídio que a espécie humana mantém com as espécies animais e espécies vegetais.
Em contrapartida, o Estado e todos os modelos de sociedade limitaram-se a adotar medidas de confinamento, distanciamento e higienização social e vigilância sanitária.
Sociólogo e professor catedrático aposentado do ISEG – Universidade Técnica de Lisboa, desde 2013, Universidade de Lisboa. Foi Presidente do SOCIUS (Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações) do ISEG-Ulisboa.