Um dos paradoxos mais gritantes e chocantes do nosso tempo assenta num consumo diligente que escamoteia ou ilude os cuidados da cidadania. Sim, os nossos comportamentos de consumo são francamente hostis à cidadania. Vivemos a ilusão do hiper-consumo, sob o primado do «bom, bonito e barato», aliviando a nossa consciência com algumas preocupações ecológicas, intermitentes e inconsequentes, em termos de cidadania. Como escreve o sociólogo francês Robert Rochefort: «Ser cidadão não se deve reduzir em circunstância alguma a consumir bem. O consumo encoraja a reconciliação dos contrários. A cidadania impõe escolhas claras, opções criteriosas».
Este livro procura fazer o diagnóstico desse paradoxo e contribuir para a reconciliação entre o consumidor e o cidadão. Não se ilude que todo este desafio de aproximar um consumo mais sustentável de uma cidadania atenta às virtualidades do mercado é uma operação difícil, uma verdadeira revolução cultural do nosso tempo. E porquê?
É um processo complexo, não tem a maioria dos produtores e dos consumidores do seu lado, conta, regra geral, com a hostilidade dos governos. É um processo incómodo para aqueles que na defesa do consumidor procuram defender os direitos sem promover as responsabilidades que incumbem ao cidadão. Estamos cercados por um espectáculo imenso, uma arena de consumo escandalosamente insustentável: nas suas práticas comerciais, na sua oferta de dinheiro imediato para compras imediatas e em que a própria Comissão Europeia apresenta como primeiro objectivo para a sua política de consumidores que se deve comprar onde quer que seja o que nos apetece.
Este livro, que é uma visão pessoal sobre a sociedade contemporânea, centra -se nas razões da cisão entre o cidadão e o consumidor e procura dar pistas para a superação dos escolhos e constrangimentos que a sociedade de consumo e do conhecimento levanta ao primado da sustentabilidade.