Brasiliana Tangencial é uma reflexão sobre a ‘descolagem’ sócio-económico-cultural do Brasil na primeira década do século XXI, apoiada na experiência tangencial de algumas (curtas) viagens do autor a (pequenos) fragmentos (urbano-costeiros) do descomunal espaço onde o grande país do Atlântico Sul se situa. Esta reflexão insere-se num conjunto mais vasto de textos, designado por ‘Contensaios do Atlântico’, em que certas franjas do litoral que bordeja as duas margens do antigo Mar das Trevas (e algumas ilhas aflorantes) são lidas e reprocessadas geopoeticamente, ao sabor de trajectos pseudoaleatórios que têm Lisboa como fulcro (após um tratamento análogo de sinais significativos vindos do Mediterrâneo, em outro conjunto de textos anteriormente publicado).
O livro centra-se no Ceará – com flashes emitidos ao longo de 35 anos por outras regiões desse ‘Imenso Portugal’: Paraíba, Pernambuco, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais – e está organizado em três capítulos principais, em que o primeiro dá uma introdução ao tema, o segundo é o core do texto, e o terceiro desenvolve algumas considerações efémeras (sustentadas num chiaroscuro entre o passado e o presente) sobre uma trajectória plausível que o país pode tomar num futuro próximo. Estes capítulos remetem para dois ANEXOS (com um estatuto não hierarquizado em relação ao texto ‘principal’), os quais se linkam com Pós-ANEXOS horizontais que também não podem ser ‘menorizados’ relativamente aos seus pontos de partida, nem ao core circular que constitui o segundo capítulo.
No livro relatam-se na primeira pessoa (fantasiosas?) experiências contraditórias experienciadas (?) pelo relator no decorrer das suas andanças pelo país-continente do Atlântico Sul, contextualizadas historicamente, desconstruídas sociologicamente, e recombinadas com tranches de vida em outras paragens, especialmente na Europa (e muito especialmente, na Lisboa dos anos de chumbo correspondente à infância e juventude do autor). Ao longo do texto, para lhe dar mais som, visualidade e sentido, perpassam inevitavelmente ecos (palavras soltas, frases, citações) de outras línguas (ditas ‘estrangeiras’), bem como figuras ilustrativas, abundantes notas de rodapé e referências bibliográficas.
Obviamente que o livro – onde a extensão hibridizante é a pedra de toque – é (adicionalmente) uma meditação sobre a literatura, mostrando-se, pela praxis, a sua relação com outras componentes da cultura, como as artes plásticas, a ciência, e, e, e, ….
Henrique José de Figueiredo Garcia Pereira nasceu em 1945, em Lisboa. Formou-se em Engenharia Química e de Minas no IST, onde é Professor Catedrático desde 1994. Coordenou uma dezena de projectos financiados pela UE e pela FCT, e é autor (ou co-autor) de uma centena de artigos científicos nos domínios da Estatística, Ambiente e Epistemologia. Publicou os livros “Arte Recombinatória”, Teorema 2000, “Apologia do hipertexto na deriva do texto”, Difel 2002 (Prémio Revelação da SPE na modalidade Ensaio Literário), “A Matéria de que são feitos os sonhos”, Teorema 2004, e “Fragmentos do Mediterrâneo” (3 volumes), Teorema 2009-2010.