Construção mítica e sobretudo, mitificada, o Palácio-Convento de mafra, seguramente uma das maiores construções jamais tentadas em Portugal, excitou, como poucas, a verve de panegiristas e (mais ainda) detractores. Outro tanto se poderá dizer de D. João V, o faustoso soberano que lhe ordenou a construção, unidos que ambos ficaram, indissoluvelmente, na (má) memória colectiva. Foi este o ponto de partida da investigação do autor: a convivção de que "cristalizada nas pedras que o passar dos séculos vai lentamente corroendo, jaz uma sociedade inteira, com os seus anseios, as suas dúvidas, os seus sonhos sempre semi-realizados". E de que "essa comunidade invisível, esse fantasma de sociedade, plasmou-os o artista, conscientemente ou não, na obra feita". Ao termo, descobriria um edifício fascinante como poucos. Uma utopia – a cidade mármore. E um tempo também, um tempo de confronto, onde passado e presente se debatem num diálogo permanente e apaixonante, que acabaria por configurá-lo como um dos mais interessantes e singulares momentos da cultura portuguesa.
António Filipe Pimentel