Este livro trata um aspecto particular da Física Nuclear – a radioactividade – na perspectiva da sua utilidade na datação de objectos com interesse histórico. A análise do índice revela bem o cunho que o autor quis dar à sua obra. João Peixoto Cabral é profundo conhecedor das aplicações de técnicas de decaimento radioactivo em história de arte e pertence ao grupo dos pioneiros em Portugal da utilização do radiocarbono em arqueologia. Logo no início da obra faz uma introdução ao problema da datação numa perspectiva muito interessante para o utilizador mais comum da primeira parte do livro que será, com certeza, alguém com suficiente conhecimento de física-química e de matemática. O texto prossegue depois por capítulos mais técnicos: a radioactividade natural e artificial, os processos de decaimento, a interacção da radiação com a matéria e as bases físicas dos detectores, e a datação absoluta com base na radioactividade. Os assuntos estão bem encadeados.
Seguindo-se a uma primeira parte mais técnica, a segunda parte do livro trata dos contributos da radioactividade para a história da arte, incluindo a datação (sobretudo de arte rupestre) e a autenticação de obras de arte. O livro termina com uma pertinente incursão pelo método de análise de activação com neutrões em história da arte. Esta segunda parte do livro, pode ser lida por todos os que se interessem por história da arte, independentemente dos seus conhecimentos nas áreas da física-química e da matemática.
A presente obra vem preencher uma lacuna que existia no panorama da literatura científica em língua portuguesa, sendo, também por isso, muito bem-vinda. Em suma, estamos perante um excelente livro em que o Autor evidencia o seu profundo conhecimento científico e humanístico. Está também de parabéns a IST-Press por editar textos com a qualidade científica de "A radioactividade: contributos para a História da Arte" de João M. Peixoto Cabral, dando-se a feliz coincidência de o livro ser dado à estampa em 2011, ano em que se celebra o centenário da descoberta do núcleo atómico por Ernest Rutherford.
Manuel Fiolhais
Departamento de Física
Universidade de Coimbra
João Peixoto Cabral é investigador coordenador, jubilado, do Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN), onde desempenhou as funções de director do Departamento de Química. Licenciado e doutorado em Engenharia Química pela Universidade Técnica de Lisboa, e agregado da mesma Universidade, foi professor catedrático convidado no Instituto Superior Técnico durante três décadas, dando início à cadeira de Radioquímica.
Investigador no domínio desta disciplina, um dos seus interesses científicos situou-se na área da Arqueometria, na qual desenvolveu numerosos projectos de colaboração com arqueólogos e especialistas em História Monetária, designadamente projectos de estudo da proveniência de cerâmicas arqueológicas, da composição de artefactos metálicos pré-históricos e da composição de moedas antigas. Foi responsável pela instalação no ITN dalgumas unidades de análise de materiais, das quais a de datação pelo radiocarbono é única no país.
Foi durante quase dois anos director do Instituto José de Figueiredo, actualmente incorporado no Instituto dos Museus e da Conservação, onde liderou alguns projectos de estudo sobre a pintura portuguesa. De 2001 a 2007 contribuiu para a regência da disciplina de Métodos de Exame e Análise da licenciatura em Conservação e Restauro, da Universidade Nova de Lisboa, dando algumas lições sobre datação e análise por activação com neutrões.
Publicou nas sua áreas de interesse dois livros e cerca de duas centenas de artigos científicos e de divulgação.