O que neste ensaio se oferece é uma leitura, uma interpretação, duma obra de arquitectura e do autor dessa obra: o Pavilhão que Mies van der Rohe projectou para a Exposição Internacional de Barcelona de 1929. Dentro deste movimento interpretativo, orientado a partir da desconstrução, e especificamente da desconstrução derridiana, fala-se também da arquitectura em geral e da arquitectura como pensamento. O objectivo é desencadear uma espécie de desconstrução filosófica que opera em, ou entre, a própria arquitectura - uma arquitectura múltipla e abismada, uma arquitectura fotografada. Não se pretende, portanto, testar os temas típicos da desconstrução, procedentes da obra de Jacques Derrida (o espectro, a marca, a ruína), em confronto com uma obra de arquitectura, mas, através deles, chegar a desconstruir a própria arquitectura. O que se procura é a iluminação duma arquitectura e dum pensamento mediante um processo que pretende mostrar, no que têm de mostrável, os segredos ocultos, os fantasmas, os desejos e esperanças que, ainda hoje, povoam e assediam o Pavilhão de Barcelona. E que, neste sentido, o abrem ao porvir.
O que dá título a este ensaio é uma frase casual que aparece reflectida numa das superfícies espelhadas do Pavilhão numa das fotografias de 1929, da agência Berliner Bild-Bericht. A partir dessa frase fantasmática - ‘Degustações gratuitas’ - o autor percorre a vida atribulada do Pavilhão e reflecte sobre a arquitectura, sobre o gosto e a gratuidade, sobre a ruína e o espectro, sobre o segredo e a cegueira, sobre o arquivo e a ruína, sobre a origem e o porvir.